Racismo? Oportunidades? Quem era eu no shopping.

Alexandre Cruv
3 min readDec 30, 2017

Eu sou negro e morador de Padre Miguel, ao lado de Bangu, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Eu sempre ouvia falar em racismo e eu não entendia, por que eu vivia dentro do mundinho da minha zona, estudando no meu bairro, fazendo compras em Bangu, se fosse algo mais sofisticado, então visitava Calçadão de Campo Grande ou de Madureira.

No início da minha juventude comecei a frequentar outros lugares. Na primeira vez que fiquei desempregado, fui procurar emprego num shopping, próximo do fim do ano, pois fiquei desempregado em Setembro 1998. Eu entregava meus currículos nas lojas, o gerente pegava e me olhava estranho; Alguns até diziam cadê a foto? Até que um rapaz de uma loja de Surf chegou pra mim e me disse: “Cara, vou te ser sincero, aqui tu só vai arranjar emprego de faxineiro, segurança e se você fosse mulher, até conseguiria de vendedor, fora isso não tem como! Olha as carinhas dos vendedores “meu!?, peles, cabelos e olhos, tu não vai arrumar nada aqui não!

vendedores brancos e de olhos claros

Jamais em minha vida tinha me tocado nesse assunto, eu apenas via vendedores… Então eu peguei o elevador e visitei todas as olhas que entreguei o currículo e outras lojas e comecei a olhar as vitrines das lojas que ofereciam emprego e lá estava escrito:

Procura-se, mesmo sem experiência em vendas, que se identifique com a nossa marca…

E 99% eram brancos ou bem claros, olhos claros, cabelos lisos… começou a passar na minha cabeça aquele vendedor da loja de surf, me lembrei que lá todos eram claros, cara de surfista (negro não surfa, então cara de negro é cara de bandido, ainda mais se tiver com a camisa do Flamengo) e aquilo começou a me incomodar.

Quando eu conversava com alguém mais claro que eu, eles diziam: Ah! mais o negro se faz de vítima ou ele é o mais racista que o racista… Tá… valeu. Eu começava a entender o que falavam sobre racismo… De visitar um amigo no Alto Leblon e o porteiro me mandar entrar pela garagem por que ali era a entrada social, não existia celular pra ligar e eu entrei na garagem e fiquei uns 30 minutos perdido procurando um elevador. Meu amigo ficou revoltado e deu um esporro no segurança e porteiro, mas a marca daquela “segregação” ficou em mim.

Comecei a ver os comerciais de tv como Dove, Loreal e outros e ver que o shampoo, sabotene e até absorvente não era para os negros, aquilo não nos representava.

Um dia fui fazer um estágio na PUC-Rio em 1999, foram seis meses e não havia negros, em lugar nenhum… aonde eles estavam? Na cantina, na faxina. Fiquei feliz quando surgiu as cotas para negros.

Em 2003 consegui um emprego onde trabalhei durante 12 anos e durante seis anos eu fui o único negro… piadinhas de sorriso amarelo não faltavam.

Hoje, 2017 eu vejo cada vez mais os negros lutando por seu espaço, seja na televisão, em comerciais, na internet, nas ruas, em todos os lugares e isso me deixa muito feliz.

Na boa? recomendo muito que leia sobre isso — http://www.contraracismo.pr.gov.br

Se os pais não tiveram oportunidade, provavelmente os filhos também não…

Um abraço.

“Se aqui fosse o youtube eu mandaria você curtir e compartilhar :)”

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Alexandre Cruv

Empreendedor, Amante de Gestão, Marketing, Mídias Sociais e principalmente um Pensador.